Belo Horizonte, como todas as grandes cidades brasileiras, possui muitos rios em seu território, mas a maioria deles está situada em galerias e funcionando como emissários de esgotos. Isto se deve ao advento dos automóveis e ao costume de se despejar o esgoto da cidade em cursos d’água desde o início do século XX, de modo que, com o passar dos anos, o tamponamento de muitos desses rios começou a ser feito, fruto de políticas sanitárias hoje tidas como ultrapassadas.
Atualmente, existe uma tendência de não mais proceder desta maneira, a fim de se manter os rios abertos e revitalizando-os para devolvê-los ao convívio das comunidades, de modo a reduzir os riscos de enchentes em áreas urbanas que tanto castigam a população. Daí a importância de se realizar um diagnóstico das bacias hidrográficas que abastecem as cidades, preservar as nascentes, melhorar a qualidade da água e reordenar as ocupações irregulares.
Neste cenário, também é necessário garantir um meio ambiente equilibrado, com proteção e criação de áreas verdes, assim como prever medidas para revitalização dos rios, de adequação da estrutura de drenagem, da implantação de bacias de contenção e acumulação, de monitoramento do lançamento de esgoto e de ações de desassoreamento, limpeza e drenagem.
À luz desta nova tendência, pode-se citar o exemplo de São Paulo, onde há o movimento denominado “Coletivo Escafandro”, que trabalha de forma colaborativa no mapeamento dos rios e no debate de como integrá-los à vida da cidade.
Apesar do esforço de regeneração dos rios canalizados ou tamponados, são poucas as chances de efetiva recuperação devido a dificuldades técnicas e sociais, e à complexidade da dinâmica dos ecossistemas e ao alto custo financeiro envolvido.
Nos bairros de abrangência da AMALUX, há cursos d’água quase totalmente fechados em canais tampados com concreto. Eles deságuam no canal abaixo da Avenida Prudente de Morais, por onde passa o Córrego do Leitão, que também recebe a água de chuva de diversos bairros adjacentes, a exemplo do Santo Antônio, do Santa Lúcia e do São Bento.
O Córrego do Leitão foi fechado na década de 70, quando já havia se transformado em esgoto a céu aberto. Isto foi feito com a finalidade de liberar espaço para o trânsito e proporcionar a ocupação e a verticalização do entorno. Vale lembrar que as margens do Córrego do Leitão eram, então, ocupadas pela Favela do Alvorada, cujos moradores se instalaram no hoje conhecido Morro do Papagaio depois da canalização.
Já havia enchentes no Córrego do Leitão antes mesmo de seu fechamento em virtude do assoreamento causado pela substituição da paisagem rural pela urbana, cada vez mais adensada e impermeabilizada.
Além disto, na década de 70 também foi construída a Barragem Santa Lúcia para conter as inundações, resultando na paisagem atualmente existente. Contudo, como se sabe, nem mesmo a barragem foi suficiente para evitar as enchentes, que ano após ano trazem tragédias à população, tal como ocorreu no final de janeiro de 2020, episódio que causou perplexidade aos belo-horizontinos.
O Município de Belo Horizonte tem Leis que visam instituir políticas e princípios cujo objetivo é amenizar as enchentes, exigindo, por exemplo, maior permeabilização do solo e compensações verdes de novos empreendimentos. Contudo, os processos urbanos antigos, já bastante consolidados e baseados em medidas hoje sabidamente prejudiciais ao saneamento, interferem negativamente na adoção de novas práticas, cujos resultados ainda não se fizeram sentir.
A situação do Luxemburgo e do Vila Paris é menos grave do que em relação ao Coração de Jesus, pois ainda possuem muitas casas e área permeável mais significativa, sendo digna de menção a Mata do Mosteiro e adjacências, que contribui positivamente com a retenção e absorção das chuvas, justificando a importância de sua preservação. E mesmo que tais casas sejam substituídas por edifícios, o Poder Público poderá – ou melhor, deverá – exigir medidas que mitiguem a implantação dos novos empreendimentos na região, dado que a atual legislação está em maior sintonia com os princípios atuais de saneamento urbano.
O mapa abaixo mostra os cursos d’água dos nossos bairros. Há cursos d’água sob a Avenida Prudente de Moraes, Rua Guaicuí e Rua Luiz Soares da Rocha, além de uma nascente próxima à Rua Professor João Martins e duas nascentes próximas à Rua Luiz Soares da Rocha, nas proximidades do Parque Tom Jobim.
Bibliografia
1º Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica-O Vale do Corrego do leitão em Belo Horizonte: Contribuições da Cartografia para a compreensão da sua ocupação.
ALESANDRO BORDSAGLI (PUC-MG)
Mapa :
Google maps
IDE BHGEO
Ecodebate
https://www.ecodebate.com.br/2020/11/27/os-rios-urbanos-e-a-infraestrutura-verde/ (29/07/2021)
UFMG
http://www.smarh.eng.ufmg.br/defesas/888D.PDF
(29/07/2021)