O texto foi elaborado pela Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Luxemburgo – AMALUX, com a relevante contribuição da arquiteta Mariana Falcão e do morador Ivo Dias.
Aspectos históricos e generalidades
O bairro Luxemburgo se situa na região onde localizada a ex-Colônia de Afonso Pena, mais precisamente na encosta esquerda da bacia do Vale do Córrego do Leitão. Essa bacia é delimitada pelas Avenidas Nossa Senhora do Carmo e Raja Gabaglia, que funcionam como divisores das águas que desembocam no fundo do vale onde hoje se situa a Avenida Prudente de Morais.
O bairro Luxemburgo é vizinho a outros bairros situados no mesmo lado da encosta da Bacia do Córrego do Leitão, como o Cidade Jardim, o Vila Paris e o Conjunto Santa Maria. Trata-se de um bairro predominantemente residencial, mas que também abriga hospitais, grupos escolares, sacolões, lojas de roupa, supermercados, bares, restaurantes, drogaria, academia, padarias, escola de natação, oficina mecânica, dentre outros estabelecimentos.
Não há uma data precisa da fundação do Luxemburgo, apesar de a denominação do bairro ter surgido nos mapas da cidade após a década de 1970. Em suas origens, a ocupação residencial era implementada mediante a edificação de casas unifamiliares e de pequenos edifícios de aproximadamente quatro andares. Mais recentemente, tem se tornado crescente a substituição das casas por grandes edifícios residenciais com mais de dez pavimentos, o que em muito contribui para o adensamento populacional, a intensificação do trânsito e a drástica redução das áreas verdes, apesar de existirem lotes classificados como Zonas de Preservação Ambiental.
A história oficial remonta a Albert Scharlé, um imigrante nascido em Steinfort, cidade localizada no Grão-Ducado de Luxemburgo, um pequeno estado soberano localizado na Europa Ocidental. No final da década de 1920, Scharlé veio para Belo Horizonte, a fim de trabalhar na antiga Belgo Mineira, atualmente Belgo Bekart Arames, quando adquiriu parte da área pertencente à ex-Colônia de Afonso Pena.
Isso possivelmente fez com que essa área fosse associada ao seu país de origem, havendo fontes segundo as quais ela fazia com que o engenheiro se recordasse de sua terra natal, muito embora tenha falecido ainda em 1956. De toda forma, há registros nos cadastros municiais que informam que, realmente, havia uma área pertencente aos herdeiros de “Alberto Charlé” na ex-colônia de Afonso Pena, assim como um Decreto Municipal, de 9 de julho de 1974, que deu a denominação de Engenheiro Albert Scharlé à rua 5 da ex-colônia, em razão de sua alta contribuição em favor do desenvolvimento cultural, científico e econômico da cidade.
Após a criação da Avenida Prudente de Morais na década de 1970, a região ainda era conhecida apenas como Coração de Jesus, sendo que grande parte de suas áreas naturais, compostas por mata atlântica e cerrado, estavam preservadas, pois ali ainda resistiam as últimas colônias agrícolas. Um grande atrativo da região era a sua relativa proximidade com o centro da capital mineira ao mesmo tempo em que se mantinha distante dos principais problemas da área central.
Além dos registros oficiais, a história do bairro também é contada pela memória de antigos moradores, a exemplo do Sr. Ivo Dias, um senhor de 84 anos de idade e que nasceu no que um dia viria a ser o bairro Luxemburgo. Ivo é neto de Silvéria Cândida Pinto, que adquiriu o lote colonial nº 19, situado na antiga zona suburbana da capital, dentro do Núcleo Colonial Afonso Pena, abrangendo a região compreendida entre as Ruas Guaicuí, Doutor Juvenal dos Santos, Fábio Couri e Luiz Soares da Rocha.
De acordo com Ivo, sua avó, já viúva e mãe de seis filhos, cultivou hortifrutigranjeiros para serem vendidos no mercado central da cidade, colaborando para o abastecimento da nova capital do estado. Historicamente, a Rua Silvéria Cândida Pinto também tem a sua origem ligada ao período de urbanização do bairro Luxemburgo no início da década de 1970.
Gradativamente, os antigos proprietários de terrenos da região se reuniram para investir no loteamento da área. Nesta época, a avó de Ivo já era falecida e as terras eram de propriedade de sua mãe, Maria Cândida Pinto, uma vez que seus tios, quando receberam suas partes da herança, venderam suas respectivas áreas para os irmãos Oswaldo Dantês dos Reis e Geraldino Dantês dos Reis.
A reconstrução histórica da Rua Silvéria Cândida Pinto revela, portanto, a vida de uma família, em especial a de duas mulheres, que tiraram de suas terras o sustento para uma família numerosa e que, mesmo em meio a tantas adversidades e dificuldades, possuíam a compreensão do sentido de preservar o meio ambiente em que viviam
“A água ainda tem, corre até hoje, ela corre na João Martins. A mina era lá embaixo no fundo. E essa área aqui de baixo era só mato, árvore grandona mesmo, e lá, você precisava ver, maravilhoso o lugar, era um poço muito grande e bonito. Essa mina era maravilhosa, ainda é até hoje. Mas no loteamento, na abertura das ruas, ela subiu, lá era baixo e no subir prensou ela lá embaixo. Mas ela saiu cá em cima. Segurar a água é muito difícil, então ela saiu em cima no terreno, mas ela corre direto e reto lá na rua. A natureza é maravilhosa, não tenho dúvida. A pessoa não para pra pensar na grandeza da natureza, nessa benção maravilhosa. Você tem que ter sensibilidade para preservar isso porque ela brota aqui vários lugares, aqui tinha mina, lá em cima tinha mina, lá embaixo tinha mina. Essa parte aqui embaixo da área tinha água pra todo lado. Tinha a canaleta de água, eles falam rego. Eu deitava assim na beirada quando tinha a mina, você ia vendo a água rolar e eu perdia tempos, horas, deitado lá vendo. E quanto mais você olha mais vontade tem de olhar. Está só saindo água, e como é isso? A água chama atenção da gente né?”
Atrativos
O principal atrativo do bairro Luxemburgo é o Parque do Mosteiro Tom Jobim, implantado em 2001 mediante compensação ambiental conquistada por moradores. Com entrada pela Rua Ismael de Faria, o Parque possui área aproximada de 6.400 m² (seis mil e quatrocentos metros quadrados), com brinquedos, recantos para contemplação, mesas de jogos, quadra esportiva.
O Parque Tom Jobim é um local de lazer e descanso, um recanto para os que buscam tranquilidade e contato com a natureza. Durante a semana, seus principais frequentadores são crianças acompanhadas de seus pais ou familiares para aproveitar o espaço livre.
Parte da vegetação do Parque é nativa e integra a área conhecida como Mata do Mosteiro, cujo complexo verde se destaca pela importância cultural, paisagística e, sobretudo, pela sua importância ambiental, contando com nascentes d’água, eucaliptos, pinheiros, abacateiros, mangueiras, laranjeiras, bananeiras, jambeiros, limoeiros, paineiras, quaresmeiras e ipês, bem como com animais de pequeno porte, a exemplo de macacos, gambás, maritacas, tucanos e jacus.
A área em questão está inserida dentro do perímetro do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Mosteiro Nossa Senhora das Graças, bem cultural tombado sobre terreno de grandes dimensões – aproximadamente 36.000 m² (trinta e seis mil metros quadrados) – localizado no topo de uma encosta no bairro Vila Paris, nas proximidades dos bairros Luxemburgo, Santa Lúcia, São Bento e Conjunto Santa Maria.
A área verde da região cobre aproximadamente 32.000 m² (trinta e dois mil metros quadrados) do Conjunto Arquitetônico, e, conforme cita o seu dossiê de tombamento, referenciado na Deliberação nº 61/2004, do Conselho de Deliberação do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte, “oxigena e equilibra o meio-ambiente, como um oásis em torno da densificada ocupação que vem sendo feita pela vizinhança, confundindo sua história com a história do bairro e da região”.
Além de contribuir para a oxigenação e o equilíbrio do meio-ambiente, a Mata constitui a única área verde expressiva da região, sendo necessária a sua preservação por diversas razões, dentre as quais a amenização do microclima local, a conformação de importantíssima área permeável, a identidade que atribui para a região, a qualidade de vida que gera para a população, e a reserva alimentar e moradia que proporciona para a avifauna, pequenos mamíferos e outros animais